Entenda por que as redes sociais deixaram de ser espaços pessoais e se tornaram vitrines de negócios, influência e conexões estratégicas.
Era uma vez um tempo em que o Orkut tinha “depoimentos sinceros”, o MSN tinha status de “ocupado” e o Facebook ainda mostrava o que seus amigos comiam no almoço.
Hoje, o feed parece um shopping center emocional: todo mundo vende algo, nem que seja a própria imagem.
As redes sociais mudaram. E mudaram muito.
O que era amizade virou audiência.
O “olha minha viagem” virou “olha minha collab”.
O “foto com amigos” virou “conteúdo patrocinado”.
Mas antes de cair na armadilha de achar que isso é algo ruim, pare e pense: talvez as redes só tenham se adaptado ao que nos tornamos, seres sociais com ambição empreendedora.
Quando o “compartilhar” virou “vender” o like virou moeda e o post virou produto.
Não foi do dia pra noite que isso aconteceu.
As plataformas perceberam uma verdade simples: a atenção humana é o novo petróleo.
E, como dizia o sociólogo Zygmunt Bauman:
“na modernidade líquida, o valor das relações está na sua utilidade momentânea.”
O Instagram não quer mais te conectar a quem você gosta — quer te prender com quem te prende.
O TikTok não quer te entreter, quer te estudar.
E o YouTube não quer te ensinar, quer te manter.
No meio disso tudo, o usuário aprendeu o mesmo jogo:
- os influenciadores vendem marcas,
- os empreendedores vendem sonhos,
- e até quem diz “não quero fama” vende autenticidade.
Afinal, como diria o velho marketing, emoção vende mais que produto. E nas redes, até a emoção virou mercadoria.
A era da marca pessoal
Antigamente, bastava ter um perfil.
Hoje, é preciso ter um posicionamento.
Não é mais sobre postar, é sobre performar.
Cada legenda é um pitch, cada story é um anúncio.
As pessoas deixaram de postar “vida real” e passaram a gerir a própria imagem como microempresas de si mesmas.
E sabe o que é mais curioso?
Funciona.
Porque construir uma marca pessoal é, de certa forma, uma forma moderna de autopreservação.
Quando você se posiciona, atrai oportunidades, gera conexão e, sim, pode transformar sua paixão em renda.
Não é errado, é humano.
O algoritmo não quer amigos, quer audiência
Eu costumo dizer que o algoritmo é o verdadeiro “amigo falso” das redes.
Ele finge te entender, mas só quer te usar.
Ele não mostra o post do seu primo, mas entrega o vídeo de um desconhecido que você nunca pediu pra ver.
Por quê?
Porque ele não prioriza vínculos, ele prioriza retenção.
E o que isso cria?
Uma nova forma de relacionamento digital, onde as pessoas competem por visibilidade, não por conexão.
Quem tem algo a vender, aprende a dançar conforme o algoritmo.
Quem só quer conversar, acaba silenciado pelo alcance.
É o paradoxo da era social: todo mundo fala, mas quase ninguém ouve.
As marcas tomaram o lugar das pessoas
As empresas aprenderam a ser humanas.
E as pessoas, a se comportar como empresas.
Basta ver:
- marcas usando memes,
- empresas com “personalidade”,
- e pessoas estudando funil de vendas pra vender bolo no Instagram.
O resultado é uma mistura estranha, mas fascinante.
As redes sociais nunca pareceram tão humanas — e nunca foram tão comerciais.
Mas isso tem seu lado bom:
nunca foi tão fácil transformar talento em negócio.
Artistas independentes, criadores, empreendedores e pequenos negócios têm nas redes uma vitrine que, há 20 anos, custaria uma fortuna.
O problema é quando a vitrine vira espelho — e a gente começa a medir o próprio valor pelos likes.
O lado bom de fazer amigos e negócios
Seria injusto dizer que tudo virou comércio.
Porque, no fundo, as redes ainda conectam, só que de um jeito diferente.
Quantas parcerias começaram em um comentário?
Quantas amizades nasceram de uma ideia compartilhada?
Quantos negócios cresceram de uma simples troca de mensagens?
A verdade é que amizade e negócio nunca estiveram tão próximos.
Se bem usados, os dois se fortalecem: confiança gera parceria, parceria gera resultado.
Como disse Simon Sinek, “pessoas não compram o que você faz, elas compram o porquê você faz.”
E é justamente nesse “porquê” que a autenticidade ainda sobrevive nas redes.
Caminhando para o metacomércio
O futuro das redes sociais é híbrido.
Nem só social, nem só comercial, é emocional e estratégico ao mesmo tempo.
O que virá depois talvez seja o que eu chamo de “metacomércio”:
um espaço onde amizade, influência e venda coexistem.
Onde você pode fazer negócios com quem admira, e admirar quem faz negócios com propósito.
E quer saber?
Talvez isso não seja um problema.
Talvez seja só a evolução natural de um mundo onde a conexão se transformou em capital humano.
Conclusão
As redes sociais continuam sendo espelhos, mas agora refletem mais o que queremos projetar do que o que realmente somos.
O “curtir” virou moeda, o “seguir” virou status e o “compartilhar” virou estratégia.
Mas nem tudo está perdido.
Ainda há espaço pra o riso sincero, a amizade despretensiosa e os posts sem legenda.
Talvez o segredo não esteja em fugir do comércio, mas em não deixar o comércio apagar o social.
Então, antes de postar, lembre-se: o like é um clique, mas a conexão é humana.
E é dela que as redes ainda sobrevivem.
Apresentação do autor
Eu sou Robério Lima, colunista do Analicts.
Escrevo sobre tecnologia e comportamento com a leveza de quem ainda acredita que a internet pode ser divertida, produtiva e humana ao mesmo tempo.
Entre um texto e outro, continuo tentando entender se é o algoritmo que me entende ou se sou eu que já penso como ele.
Talvez os dois.
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Prometo que não vou te vender nada, só boas reflexões e umas risadas de vez em quando. 😉
FAQ
Por que as redes sociais viraram comércio?
Porque a atenção virou moeda, e a influência virou um ativo valioso. As pessoas aprenderam a transformar presença digital em negócio.
As redes ainda servem para fazer amigos?
Sim. A diferença é que hoje, a amizade pode virar parceria, e isso não é necessariamente ruim.
Isso é um problema?
Depende do uso. As redes podem aproximar ou afastar, dependendo de como você se posiciona nelas.
Como equilibrar o lado social e o lado comercial?
Sendo autêntico. Publique o que acredita, e não apenas o que engaja.
Robério Lima – Analicts
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